Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Memória - Entre o ócio e o negócio*

Foi a sociedade romana que deu ao Ocidente (ao mundo) a noção moderna sobre a divisão e aproveitamento (eficácia) daquilo que temos de mais precioso, o Tempo.

Ante um otium, dedicado ao espaço público (Ágora), onde se praticava e se interagia com os outros nos campos da Política ou da Cultura, havia um nec otium, o para lá do ócio, ou negócio, período dedicado a ganhar dinheiro que permitisse, além de viver, o gozo do ócio.

Primum laborare, deinde philisophare, uma máxima também romana, já é uma alteração ética importante nesse conceito de divisão do tempo, onde se apregoa a lei “natural” de se trabalhar primeiro e se filosofar apenas depois. Afinal, estariam aqui as raízes do conceito de “tempo é dinheiro” introduzido algures no final da Idade Média europeia pela classe burguesa ascendente, e aplicado com todo o rigor pelo pensamento da Reforma, de Lutero ou Calvino.

O que é o Tempo? É aquilo que soubermos ou pudermos fazer dele.

Somos donos do nosso tempo? Para pobres e ricos, estejam onde estiverem, a resposta parece ser a mesma: cada vez menos.

Os ritmos naturais, ditados pelos nossos calendários biológicos ou pela movimentação dos astros (dia/noite, fases da Lua, marés, meses, Estações, ano), deram lugar a marcadores do Tempo ligados directamente às actividades agrícolas, e aqueles fizeram surgir os Livros de Horas e a Liturgia, que aí se encaixavam ainda na perfeição. Relógios de sol, de água, de areia serviam então bem para se saber do Tempo que era, de quando interromper o negócio e usufruir do ócio.

O ressurgimento dos burgos, o reabrir do comércio, o aumento da riqueza e sua concentração numa nova classe surgem a par de um novo invento, o relógio mecânico, laico, da torre do castelo ou do município, que passa a rivalizar com o Tempo que até então era monopólio do convento, do mosteiro, da igreja.

A Revolução Industrial rompe definitivamente com o ritmo rural, de sol a sol, e o relógio passa a ser o apito do comboio ou da fábrica. Os novos meios de comunicação e transporte concentram o tempo, que passa de local a nacional, de nacional a continental, de continental a global. E a percepção universal do tempo passa a ser imediata e difusa: o que se está a passar agora nos antípodas é também pertença do meu tempo, pois vejo, ouço, sinto, “ao vivo” tudo e todos; o meu local de trabalho é onde estiver, a qualquer hora, desde que “comunicável”.

Satélites, Internet, media mergulham-nos em permanência na última e einsteiniana dimensão e o otium e o nec otium deixam de ter fronteiras.

É sobre o Tempo e os seus medidores, é sobre a evolução de mentalidades derivada da maneira como temos lidado e pensamos vir a lidar com o Tempo que vamos falar aqui. Cintos apertados, começa a viajem na Máquina do Tempo.

*Crónica de A Máquina do Tempo, publicada no suplemento Casual (Semanário Económico), de 25/05/07

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